Talvez o amor tenha chegado...
tarde demais pra ser começo,
cedo demais pra ser eterno.
Veio como brisa fora de estação,
quando o corpo já vestia outras vontades
e a alma ainda despia lembranças.
Encontramo-nos...
não na ausência de sentimento,
mas na ausência de tempo.
Como dois astros em rotas próprias,
com órbitas que se cruzam
sem nunca se tocar de verdade.
Mas... e se o tempo não for tirano?
E se o amor, esse teimoso alquimista,
souber esperar
até que o relógio do universo
desista de impor seus ponteiros?
Ainda há chama.
Talvez frágil, talvez discreta... mas há.
E enquanto houver luz, há caminho.
Talvez hoje sejamos desencontro,
mas amanhã... quem sabe?
Possamos ser destino.
Porque o que é verdadeiro
não morre de tempo.
Só repousa.
Esperando o instante em que
os olhares se alinhem,
as almas se reconheçam,
e o amor, enfim,
chegue na hora certa.
E se não fomos um do outro
neste tempo,
quem garante que não o seremos
em algum tempo nosso?
Os amores que nascem do impossível
costumam florescer em silêncios profundos,
nos gestos que não se completaram,
nos toques que só aconteceram no pensamento.
E, mesmo assim, são inteiros.
Porque o que sentimos
não precisa de presença constante
basta a lembrança que pulsa,
a saudade que aquece
e a fé em um reencontro qualquer.
Eu sigo...
não preso ao passado,
mas vinculado à possibilidade.
Sigo acreditando que há um lugar
onde os relógios não mandam,
onde tua ausência é só intervalo,
e tua presença é certeza sem aviso.
Se não for agora,
que seja depois.
Se não for aqui,
que seja onde as almas se entendem
sem precisar explicar os atrasos.
Não peço promessas,
nem juras ao luar...
Peço apenas que, se sentires
esse mesmo fogo manso
que me aquece, mesmo à distância,
cuide dele.
Porque onde há chama,
há reencontro.
E onde há amor,
sempre haverá esperança.
Por A.S.F.