domingo, 27 de abril de 2025

"ESPELHO, ESPELHO, MEU..."

 













 Olho pra figura diante do espelho... um mosaico de fragmentos colados com cola que não cola e esperança.

Risco um sorriso torto, como quem ensaia o deboche da própria tragédia.
É... até que ficou apresentável.

Carrego nas costas um casaco feito de derrotas costuradas com linha de dias bons.
Nos bolsos, guardo umas três ou quatro ilusões amassadas,
uns pedaços de sonhos que riram da minha cara antes de escaparem pelos dedos.

Meu olhar?
Carrega a ironia dos que já prometeram nunca mais acreditar...
e acreditaram de novo. Brilha com o sarcasmo discreto de quem já caiu mil vezes,
mas levanta como se fosse tudo parte do plano.

Cá estou, com os sapatos gastos da caminhada e a alma meio remendada.
Dançando no fio da navalha entre o "tanto faz" e o "tudo importa".
Entre o "deixa pra lá" e o "não posso desistir agora".

Às vezes penso que virei piada de mau gosto do destino.
Noutras, me reconheço como uma rima imperfeita... feia de tão sincera...
nesse poema mal diagramado... que chamam de vida.

No fundo, sei:
Sou sobrevivente daquilo que jurei não sobreviver.
E isso, de algum jeito, ainda me arranca um sorriso amargo, é claro, mas verdadeiro.

Porque no final das contas,
não importa quantos cacos eu cole...
ainda brilho um pouco.
Ainda incomodo a escuridão.

E talvez, só talvez...
isso já seja vitória.


                                                                                                                              A.S.F.