sexta-feira, 16 de maio de 2025

O ABSURDO DAS RESPOSTAS

 

Não tente entender tudo e todos...
Há labirintos que se desenham só pra manter a gente dentro.
E relógios que andam pra trás, só pra confundir o tempo do coração.

Às vezes, a lágrima não cai... se esconde nos olhos secos.
O amor não vai embora... ele se desintegra em silêncio.
E há palavras que não saem... porque nasceram pra morrer no peito.

Quer paz? Aprenda a dançar no caos...
Não espere o silêncio do mundo pra encontrar o seu.
Algumas batalhas são vencidas quando a gente escolhe não lutar mais contra si.

Tem dor que vem vestida de resposta,
E resposta que só aumenta a dor.
Tem gente que some e isso já diz tudo.
Tem perguntas que são armadilhas com ponto de interrogação.

Nem tudo é pra ser resolvido.
Nem todo laço apertado merece ser desfeito.
Tem coisas que só fazem sentido quando a gente para de procurar sentido.

Porque há dores que são poemas de um idioma que só a alma decifra.
E no fim... talvez o sentido seja justamente não fazer sentido.

...E mesmo sem sentido, a vida insiste em acontecer.
A flor nasce no asfalto rachado.
O riso escapa no meio do luto.
E o caos? Ele não pede licença... mas, às vezes, traz a chave da liberdade.

Quem tenta entender tudo se afoga nas entrelinhas.
Quem sente... navega.
Porque há mapas que só se revelam quando a gente se perde.

Desconfie do que é lógico demais.
Do que vem rápido, fácil, redondo.
As verdades mais profundas costumam vir tortas, cansadas,
e ainda assim... libertadoras.

Nem tudo precisa ser explicado...
algumas coisas só precisam ser vividas,
ou simplesmente deixadas passar,
como vento forte que assovia... e ensina sem dizer uma palavra.


Por A.S.F.

segunda-feira, 12 de maio de 2025

CORAÇÃO DEVAGAR

 

Acordo para o sol que,
como sempre,
ilumina sem pedir permissão.

O sorriso, que normalmente brota fácil,
hoje é tímido...
escondido nas sombras de um coração contrito,
que bate devagar,
hesitante,
como quem tem medo de tocar a própria verdade.

No dia a dia,
entre as estrelas que ainda persistem no céu,
busco um lugar para me encontrar.
Um lugar onde o ar ainda se respira com leveza
e onde a beleza não é só reflexo da luz,
mas uma marca da alma.

O cotidiano, com seus desafios e alegrias,
ensina a cativar com um simples gesto.
Mas, e quando o gesto se perde?
Quando a vontade de sorrir
se esconde em algum canto distante,
esperando o momento certo de retornar?

A amizade, essa dádiva,
se revela cúmplice nos melhores e piores momentos...
mas também se desgasta
na preguiça de quem deixa o tempo passar
sem cuidar das pequenas coisas
que fazem toda a diferença.

A lealdade, que devia ser pilar,
muitas vezes se vê abandonada
na busca insensata por algo que se julga mais importante,
mas que deixa um vazio impossível de preencher.

Rancor, mágoa, desapontamento...
Velhos conhecidos.
Sentimentos que ocupam espaço
onde poderia haver paz,
onde a bondade poderia ser semeada,
mas se perdem em um ciclo sem fim de frustrações.

Talvez seja hora de soltar as amarras
que me prendem a essas sombras
e permitir que a luz...
ainda que tênue...
entre de novo.

O vento,
que um dia esculpiu a rocha mais dura,
também pode, quem sabe,
amolecer a alma mais resistente.

A transformação está na paciência,
na espera silenciosa pela cura
que só o tempo pode trazer.

O segredo é não abandonar a jornada,
mesmo quando o peso do mundo
parece insuportável.

As estrelas ainda brilham,
o sol ainda aquece...
Talvez a chave esteja
em aprender a ouvir o silêncio do coração,
com o mesmo cuidado
que se escuta o sussurro do vento.

Hoje,
o coração bate devagar,
mas bate.

E isso, de algum modo...
já é um sinal
de que a esperança,
ainda que escondida,
persiste.

A.S.F.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

O GRITO QUE NINGUÉM OUVE

 

ALMAS, NÃO CURTIDAS...

Fico pensando…
Quando foi mesmo que deixamos de chorar por uma alma e passamos a vibrar por um like?
Talvez tenha sido quando o louvor virou “playlist” e a oração, legenda.
Ou quando a alma ao lado virou estatística… e a selfie no altar, testemunho.

As igrejas, antes farol, agora disputam qual tem a luz mais colorida.
Os bancos continuam lá, firmes, mas os corações... esses andam pulando de culto em culto atrás de “conforto espiritual”, como quem troca de canal.
Reuniões cheias, corações vazios.
Cultos longos, profundidade rasa.
Tem muito "amém" e pouco "arrependimento".
E pior: tem multidão na porta, mas poucos dispostos a buscar uma única ovelha que se perdeu no mato da vida.

Sabe aquela alma que entrou cabisbaixa e saiu ignorada?
Pois é... o céu chorou por ela.
Mas a igreja? Seguiu o cronograma.
Não atrapalha o louvor, não quebra o protocolo, não atrase a Santa Ceia...
A alma? A gente ora depois — se sobrar tempo, claro.

Tem ministério pra tudo: dança, mídia, eventos, recepção...
Mas cadê o ministério do “vem cá, senta aqui, me conta tua dor”?
Tem congresso de adoração com ingresso caro, buffet e luz de LED.
Mas falta compaixão pra lidar com a irmã que vem com o mesmo vestido há três meses.

Ah, perdão, esqueci... Ela não tem “visão ministerial”.
É só uma alma.
E alma, pelo jeito, perdeu valor.
Não gera engajamento, não dá prestígio, não tem Instagram.

E mesmo assim...
Jesus ainda para por uma.
Por uma alma suja, torta, caída, falida...
uma que a gente, às vezes, nem notaria... mas que Ele chama de filha.

Enquanto o mundo grita, a igreja sussurra.
Enquanto o inferno investe, a igreja debate.
Enquanto vidas se perdem, gente discute se pode ou não usar boné no culto.

Mas calma... Nem tudo tá perdido.
Ainda tem gente com lágrima no joelho e fogo no peito.
Ainda tem crente que troca o palco pela praça e prega com vida.
Ainda tem pastor com cheiro de ovelha, não de palco iluminado.
E tem alma que, mesmo invisível pra muitos, é o tesouro mais precioso pro Céu.

Talvez a gente precise menos de aplausos e mais de abraços.
Menos de eventos... mais de encontros.
Menos de números... mais de nomes.

Porque no fim, quando o Amado voltar, Ele não virá buscar ministérios, nem igrejas registradas, nem likes acumulados...
Ele virá buscar almas.
Uma por uma.
Inclusive aquela que a gente deixou passar...

E, quem sabe, Ele até sorria ao ver que você leu tudo isso até o fim.
Afinal, o céu se alegra por uma alma... 

E TALVEZ ESSA ALMA, SEJA VOCÊ.

A.S.F.

quarta-feira, 30 de abril de 2025

"(DES)COMPASSOS DO DESTINO"

 

 

Talvez o amor tenha chegado...
tarde demais pra ser começo,
cedo demais pra ser eterno.
Veio como brisa fora de estação,
quando o corpo já vestia outras vontades
e a alma ainda despia lembranças.

Encontramo-nos...
não na ausência de sentimento,
mas na ausência de tempo.
Como dois astros em rotas próprias,
com órbitas que se cruzam
sem nunca se tocar de verdade.

Mas... e se o tempo não for tirano?
E se o amor, esse teimoso alquimista,
souber esperar
até que o relógio do universo
desista de impor seus ponteiros?

Ainda há chama.
Talvez frágil, talvez discreta... mas há.
E enquanto houver luz, há caminho.

Talvez hoje sejamos desencontro,
mas amanhã... quem sabe?
Possamos ser destino.

Porque o que é verdadeiro
não morre de tempo.
Só repousa.
Esperando o instante em que
os olhares se alinhem,
as almas se reconheçam,
e o amor, enfim,
chegue na hora certa.

E se não fomos um do outro
neste tempo,
quem garante que não o seremos
em algum tempo nosso?

Os amores que nascem do impossível
costumam florescer em silêncios profundos,
nos gestos que não se completaram,
nos toques que só aconteceram no pensamento.
E, mesmo assim, são inteiros.

Porque o que sentimos
não precisa de presença constante 
basta a lembrança que pulsa,
a saudade que aquece
e a fé em um reencontro qualquer.

Eu sigo...
não preso ao passado,
mas vinculado à possibilidade.
Sigo acreditando que há um lugar
onde os relógios não mandam,
onde tua ausência é só intervalo,
e tua presença é certeza sem aviso.

Se não for agora,
que seja depois.
Se não for aqui,
que seja onde as almas se entendem
sem precisar explicar os atrasos.

Não peço promessas,
nem juras ao luar...
Peço apenas que, se sentires
esse mesmo fogo manso
que me aquece, mesmo à distância,
cuide dele.

Porque onde há chama,
há reencontro.
E onde há amor,
sempre haverá esperança.

Por A.S.F.

domingo, 27 de abril de 2025

"ESPELHO, ESPELHO, MEU..."

 













 Olho pra figura diante do espelho... um mosaico de fragmentos colados com cola que não cola e esperança.

Risco um sorriso torto, como quem ensaia o deboche da própria tragédia.
É... até que ficou apresentável.

Carrego nas costas um casaco feito de derrotas costuradas com linha de dias bons.
Nos bolsos, guardo umas três ou quatro ilusões amassadas,
uns pedaços de sonhos que riram da minha cara antes de escaparem pelos dedos.

Meu olhar?
Carrega a ironia dos que já prometeram nunca mais acreditar...
e acreditaram de novo. Brilha com o sarcasmo discreto de quem já caiu mil vezes,
mas levanta como se fosse tudo parte do plano.

Cá estou, com os sapatos gastos da caminhada e a alma meio remendada.
Dançando no fio da navalha entre o "tanto faz" e o "tudo importa".
Entre o "deixa pra lá" e o "não posso desistir agora".

Às vezes penso que virei piada de mau gosto do destino.
Noutras, me reconheço como uma rima imperfeita... feia de tão sincera...
nesse poema mal diagramado... que chamam de vida.

No fundo, sei:
Sou sobrevivente daquilo que jurei não sobreviver.
E isso, de algum jeito, ainda me arranca um sorriso amargo, é claro, mas verdadeiro.

Porque no final das contas,
não importa quantos cacos eu cole...
ainda brilho um pouco.
Ainda incomodo a escuridão.

E talvez, só talvez...
isso já seja vitória.


                                                                                                                              A.S.F.